segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O Tempo que corre para trás.

Título Original: The Curios Case of Benjamim Button
Género: Drama
País
Estados Unidos
- Ano 2008 Duração 146 min.

Roteiro Adaptado
Eric Roth e Robin Swicord

Intérpretes:
Brad Pitt (Benjamin Button)Cate Blanchett (Daisy)Julia Ormond (Caroline)Faune A. Chambers (Dorothy Baker)Elias Koteas (Monsieur Gateau)Jason Flemyng (Thomas Button)Tilda Swinton (Elizabeth Abbott)Taraji P. Henson (Queenie)
Realização:
David Fincher

SinopseNova Orleans, 1918. Benjamin Button (Brad Pitt) nasceu de forma incomum, com a aparência e doenças de uma pessoa em torno dos oitenta anos mesmo sendo um bebê. Ao invés de envelhecer com o passar do tempo, Button rejuvenesce. Quando ainda criança ele conhece Daisy (Cate Blanchett), da mesma idade que ele, por quem se apaixona. É preciso esperar que Daisy cresça, tornando-se uma mulher, e que Benjamin rejuvenesça para que, quando tiverem idades parecidas, possam enfim se envolver.

azia tempo que um título de uma obra não dizia tanto sobre ela. Desde a primeira vez que eu li sobre esse filme comecei a falar com amigos e vários deles demonstravam um grande interesse pela história do cara que nasce com 80 anos e vai ficando jovem, com o passar do tempo.
Boa parte do interesse desse filme vem somente pela idéia, baseada num conto escrito por F. Scott Fitzgerald em 1921, e é o que fará você ir aos cinemas pra simplesmente ver o desenvolvimento da história (claro que se você é muito fã de um dos atores do elenco isso conta em primeiro lugar), ou seja., ele ficando mais novo. Porém, na tentativa de contar uma história de amor, o filme acabou ficando cansativo demais. São mais de 2h45min de filme. Isso é tempo demais. Pra um filme tão longo assim ser suportável, o ritmo precisa ser totalmente diferente do que estamos acostumados em se tratando de filmes longos, o que, infelizmente, em Benjamin Button, só acontece à partir do momento em que ele e Daisy finalmente se encontram, no meio de suas vidas.
Já que o filme é contato através de um diário, há um detalhismo exacerbado e cenas que duram muito tempo, poderiam ter sido enxugadas, como quando Benjamin conhece Elizabeth num hotel, na Rússia. São longos minutos mostrando a mesma coisa. E a primeira parte da infância num asilo, é muito tediosa, por que é descritiva. Talvez para não cair na objetividade e na dinâmica que os filmes mais biográficos mostram nessa fase da vida dos seus personagens retratados, David Fincher, o diretor, tenha preferido se estender mais, até para mostrar a parte em que ele está velho, que numa história normal, seria o final do filme. Mas passou da medida
O trabalho de maquiagem + CGI nesse filme é muito bom e impressiona.Não se percebe na maioria dos momentos do filme quando é um ou quando é outro. Apenas quando Cate aparece na fase jovem, como bailarina iniciante, que vemos que há algo etéreo e digitalmente pálido demais em seu rosto e quando Brad está com 16 anos mais ao final.
O Curioso Caso de Benjamin Button, apesar de também ser uma espécie de reverência a um cinema perdido no tempo, ou à própria passagem do tempo, trabalha bastante no terreno do emocional e isso garante uma certa estranheza bem interessante ao filme.
Ver as tranformações acontecendo no velho de 80 anos que vai rejuvenescendo e descobrindo a vida ao mesmo tempo, já vale o ingresso. Mas poderiam ter desenvolvido mais dinamicamente a narrativa até chegarmos ao encontro nos anos 60 do casal protagonista. Alguns críticos e amigos apontam, e eu me incluo nisso, a falta de mais elementos que saciem nossa curiosidade de ver ele lutando com maior ímpeto contra a solidão que atormenta quem vive uma vida ao contrário.O filme assume uma figura conformista para com o protagonista em relação a tudo e sua mazela, e o diretor nos mostra ser essa decisão acertada ao longo das seqüências mostradas, permitindo a Brad Pitt que mantenha seu personagem escondido do resto do mundo, enquando se explora outros recursos visuais da história. Ao final do filme quando começa a se esboçar uma tomada de consciência de mundo e de que ele está involuíndo para o fim, temos cenas rápidas do protagonista vagando por diversos locais do mundo e a personagem de Cate Blanchet toma um vulto maior. E ela quem acaba dando o grand finale ao filme, cuidando do seu amigo, depois amante, depois paixão e depois...apenas um menino que não a conhece mais e nem se lembra dela.
O Curioso Caso de Benjamin Button vence por ser exatamente o que diz o título, um curioso caso de uma pessoa que nasceu velha e foi crescendo e ficando mais nova. O problema é que a curiosidade é grande demais… É simples e quase apático. Sua maior qualidade é ser assim e chegar ao final da projeção tendo a certeza que se assistiu certamente a um dos melhores filmes do ano de 2008.

O Curioso Caso de Benjamin Button ●●●●
The Curious Case of Benjamin Button, 2008, David Fincher

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Cirque du Soleil de Novo no Brasil e em Porto Alegre


Conforme algumas pessoas aqui do blog já sabiam (informação que corria nos bastidores de "Alegria" outro espétáculo da companhia que veio ano passado para cá) o Cirque du Soleil e a produtora Time for Fun, bateram o martelo para a vinda do Cirque du Soleil novamente para o Brasil. Nove capitais brasileiras serão contempladas com Quidam em 2009 e em 2010. Além de Rio, São Paulo, Curitiba, Brasília e Porto Alegre, o circo desembarcará também dessa vez em Recife, Salvador e Fortaleza. Com uma operação logística bem maior, a produção ficará a cargo novamente da produtora Time for Fun (Ex CIE-Brasil) e também responsável pela vinda ao país dos maiores shows de música internacionais (U2, Madonna) e versões brasileiras de musicais da Brodway (O Fantasma da Ópera e Miss Saigon). Foi marcado uma entrevista coletiva para imprensa dia 11 de Março onde será anunciada a nova turne e serão detalhados as novidades aos jornalistas e dois números ainda não definidos serão exclusivamente apresentados por alguns integrantes do Cirque.

E muito provável que por questões estruturais e logisticas Porto Alegre so receba a troupe em 2010. O espetáculo Quidam estreou em 1996 em Montreal, fala da contemporaneidade do individualismo e da solidão humana em meio à rotina massacrante.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Mickey Rourke constrói, diante do espectador, a caminhada de Randy


Título Original: The Wrestler

Género: Drama

País: Estados Unidos
- Ano 2008 Duração 109m

Roteiro Original: Robert D. Siegel

Intérpretes:
Mickey Rourke
Marisa Tomei
Evan Rachek Wood
Ernest Miller
Todd Barry
Mark Margolis
Wass Stevens
Jodah Friedlander

Realização: Darren Aronofsky


Profissional de atividade que exige algum tipo de esforço físico se aposenta; depois de algum tempo parado, precisa retornar ao trabalho, para provar seu valor e resgatar a confiança de alguém. Volta e meia este enredo dá as caras nas telas, e seu espaço natural é o drama. Nosso herói pode ser um desportista, como no clássico O campeão, de King Vidor (1931) ou sua cópia menor realizada por Franco Zeffirelli em 1979; pode ser um artista – o que nos remete a Luzes da Ribalta, de Charles Chaplin (1952). Essa lista de filmes lacrimogêneos, alguns melhores e outros piores, ganha a surpreendente adesão do diretor Darren Aronofsky em O lutador.
Surpreendente por que nos filmes anteriores, como Pi (1998) ou Requiem para um sonho (2000), Aronofsky nos apresenta uma narrativa seca, onde nos impede a identificação com os personagens, tornarmos próximos deles para entender melhor seus dramas. E bom quando descobrimos então outras facetas de um diretor, e aqui ele nos dá imagens chocantes, cruéis, que nos levam a ver a sociedade em decomposição por outra maneira. Mas O Lutador não deixa de ter uma direção tradicional, com pontas soltas do roteiro, e pontos de virada em cenas que nos dizem que devemos pegar o lenço por que vai sair um choro. Isso não impede que Aronofsky continue sendo um provocador. O lutador é um filme visualmente desconfortável. Contém elementos incômodos também em seu enredo (a rejeição do pai pela filha, o amor pela dançarina erótica) e diálogos diretos que chocariam alguns setores da sociedade mais puritanos.
Mas esse filme seria outro se não fosse filmado com Mickey Rourke no papel principal. Aronofsky parecia querer fazer uma homenagem a Mickey e filmes-homenagem geralmente são limitados, cansativos e não levam a lugar algum. Todos os filmes mencionados no primeiro parágrafo se sustentavam, antes de tudo, no trabalho de seus intérpretes. Em outro parentesco com eles, O Lutador não foge à regra. Seria uma narrativa comum sem Mickey Rourke, torna-se algo denso por causa dele.
Mas O Lutador é completamente diferente do que se poderia imaginar. Ele não está à sombra do histórico ou da figura de Mickey Rourke. Randy "The Ram" e o ator têm pouco a ver. Seu único ponto em comum talvez seja o fato de que ambos são resultados dos caminhos equivocados que tomaram em suas histórias. E isso que qualifica mais o filme, essa desassociação. Sua trilha mais metalizada, mas de forma calma, traduz o personagem principal, um herói de uma outra época, preso a um passado não exatamente de tantas glórias, mas de promessas e deslumbramentos. Câmera na mão, subjetiva na maior parte do tempo, fotografia que lembra a estética de filmes dos anos 80 mais experimentais e de pouco orçamento, nos dão uma clara intenção de que o foco é o personagem de Randy e que ele vive um drama real, urbano e visceral.
"The Ram", que apesar dos músculos sempre foi um homem amável e dócil, resolve partir em busca de conforto. Seja nos braços de Cassidy, a dançarina vivida por Marisa Tomei, deslumbrante, no melhor papel da sua carreira, comprometido talvez apenas pelo roteiro que deixa solta as arestas e respostas sobre suas reais intenções, mas que seu esforço em cena, compensa, em quem enxerga um possível amor e um pilar de reconstrução; seja na tentativa de reaproximação da filha, para quem sua figura é apenas um fantasma incômodo; seja no esforço para arrumar outro emprego, seguir uma nova vida, sobreviver. Não quero aqui condenar o filme a uma história de redenção - e náo seria errado classificá-la assim porque, pensando melhor, o que Randy quer é ter a chance de poder recomeçar. Mas o roteiro não nos dá as coisas de forma tão fácil. Se o resultado pode decepcionar alguns fãs de Aronofsky, vai conquistar os que apreciam um bom drama.
Nas premiações prévias no EUA e Europa, Mickey tem ganhado indicações e láureas de Melhor Ator do ano, por esse filme. Foi premiado com Leão de Ouro de interpretação masculina em Veneza 2008. No Oscar 2009 concorre a Melhor Ator e acredito que o a Academia dará seu premio de contribuição e estímulo para aquele que já foi prodígio e gala queridinho do cinema americano e que afundou no ostracismo por seu próprio mérito. Como um prêmio honorário pelo mérito de ter perpassado o seu difícil lado pessoal e ter injetado vida e interpretação ao seu personagem lutador. Ainda não vi todos seus concorrentes, mas a experiência diz que a maioria não é burra. Talvez seja a única chance que o Sr.Rourke tenha para mostrar que pode ser um ator de nível novamente e confiável. Veremos no decorrer dos fatos.


O LUTADOR ●●●1/2
The Wrestler, Darren Aronofsky, 2008

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Kate Winslet conduz a adaptação, The Reader. Um filme morno e com boa interpretação sua



O Leitor

Título Original The Reader
Género
Thriller

País
Estados Unidos
- Ano 2008 Duração 123m Classificação M12
Pessoas Relacionadas

Roteiro Adaptado
David Hare

Intérpretes:
David Kross ,
Jeanette Hain ,
Kate Winslet ,
Ralph Fiennes

Realização:
Stephen Daldry

Sinopse:

O LEITOR começa na Alemanha após a Segunda Grande Guerra Mundial quando o adolescente Michael Berg (DAVID KROSS) fica doente e é ajudado por Hanna (KATE WINSLET), uma estranha com o dobro da sua idade.
Michael recupera entretanto da escarlatina e vai à procura de Hanna para agradecer. Ambos são rapidamente arrastados para um apaixonado mas secreto caso amoroso.
Michael descobre que Hanna adora que leiam para ela e a relação física entre eles intensifica-se. Hanna deixa-se cativar, à medida que Michael lê para ela “A Odisseia,” “Huck Finn,” e “A Dama do Cachorrinho”. Apesar da intensa relação entre eles, um dia Hanna desaparece misteriosamente e Michael fica confuso e de coração partido.
Oito anos depois, Michael é um estudante de direito que observa os julgamentos de guerra nazis e fica estupefacto ao ver Hanna novamente na sua vida – desta vez como arguida no tribunal.
À medida que o passado de Hanna é revelado, Michael desvenda um grande segredo que irá ter impacto na vida de ambos.

Sobre The Reader

Stephen Daldry fez três filmes em sua carreira. Todos os três renderam indicações para o Oscar de melhor diretor. Daldry, a julgar por isso, seria um cineasta sem par no cinema atual. Mas não é bem assim. Billy Elliott, seu primeiro longa, é uma pequena e despretensiosa história, um típico filme minúsculo inglês. Seu protagonista dançarino é cativante e seu elenco de apoio ajuda a tornar tudo ainda mais agradável e redondinho. Já As Horas mostra uma guinada nas intenções do diretor. Pretensão não falta à adaptação da novela multitemporal de Michael Cunningham. Pretensão e superficialidade. Daldry, apesar de uma esplêndida coleção de atrizes, faz pouco para dar densidade aos dramas das personagens. Oferece muito, mas não passa muitos obstáculos da pista.

Os primeiros minutos de O Leitor indicam que o filme seguiria esta linha, do comodismo em adaptar obras literárias. Daldry tenta dar volume ao material, sustentando a trama com uma série de cenas de “erotismo light - aquele que costuma incitar sem ofender as senhoras finas e elegantes - ”(Blog do Chico – Fev/2009), e tentando embasar um misterinho pontual (que também serve para que o espectador chegue ao momento da revelação dizendo: "eu já sabia"). Se terminasse assim, seria mais do mesmo, nada muito profundo como estamos acostumados com a maioria dos roteiros americanos. Mas O Leitor vai além: ele tenta ser um filme importante.


'O Leitor' me deixou bastante incomodado com a sucessão demasiada de lugares comuns das cenas de tribunal adiante. Há uma cena que deveria ser melhor aproveitada, e para mim no contexto, ela é entendível no roteiro, mas não serve como resolução e avanço da narrativa, que é o momento em que Michael visita o Campo de Auschvitz,e anda pelo dormitório, e pelos demais espaços do complexo, local chave do Holocausto nazista. Entendo que pra nos que conhecemos a história isso é relevante, mas esse revisionismo não condiz com o que o filme propunha.

O filme até a sua entrada na fase universitária mais séria do rapaz, até dava pra assistir com o corpo mais atento a frente da poltrona, mas do meio pro final a coisa desanda completamente: aquelas nazistas idosas e sem graça, contrastando com a pobre Kate, não se configuram numa boa seqüencia. Juro que torci para nestas mesmas cenas, o personagem de Michael desse seu testemunho de um dos segredos que Hannah esconde por vergonha e salva-se ela, seu primeiro amor, mas ela cala, e aceita ser culpada pelos homicídios da presas nos campos de concentração.
Somos repentinamente jogados num drama pós-Holocausto, que consegue destruir toda a força que Kate Winslet fazia na primeira metade do filme para que sua personagem fosse menos óbvia. A boa atriz rapidamente é engolida pela trama que se pretende rica e significativa, que mergulha numa desastrosa série de soluções de roteiro, que não tornam a narrativa contada tão interessante. No meio de toda essa sucessão de abobrinhas (recheadas de maquiagem – não muito boa por sinal), vem o já citado momento da grande revelação, que a metade mais esperta da platéia já havia descoberto uns quarenta minutos antes. Antes da cena final, inexpressiva, resolve-se, pela primeira vez, refletir sobre os atos da protagonista, mas isso vem na forma de uma seqüência de bate papo insossa, que não tem o total clímax que o filme pedia naquele momento. Os dois atores estão mornos em cena, ali, com Kate se esforçando para dar detalhes mínimos a sua interpretação, o que consegue no todo ser melhor que Ralph Finnes, que não mantêm o ritmo nem o espectro interessante de David Kross que o interpreta na adolescência e juventude. E aqui falo de ritmo não no sentido corporal, mas algo vivaz que mesmo um homem lembrando do passado e atormentando-se com ele pode ter. E que um ator pode saber buscar, entender e colocar num personagem.

O filme pelo menos salva-se de acabar sem motivo aparente, pela cena em que o Sr.Berg vai a casa de uma das vítimas de Hannah, sobrevivente do Holocausto, e lhe entrega algo que a presidiária queria deixar com ela. Bela cena, um tanto pela atriz Lena Olin, e seu tempo e expressões mínimas perfeitas, e pela boa forma que foi dirigida e montada.
Fala-se muito que o grande papel da Sra.Winslet na temporada é em Foi Apenas um Sonho. Não sei ainda não vi. Na semana comento. A Indicação para o Oscar de Melhor Atriz por The Reader, mostra-se merecida pelo esforço. Mas se ela vai ganhar, bom ai são outros fatores. A julgar pelos prêmios americanos e péla mídia, sim.

O Leitor ●●●The Reader, 2008, Stephen Daldry