quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Mickey Rourke constrói, diante do espectador, a caminhada de Randy


Título Original: The Wrestler

Género: Drama

País: Estados Unidos
- Ano 2008 Duração 109m

Roteiro Original: Robert D. Siegel

Intérpretes:
Mickey Rourke
Marisa Tomei
Evan Rachek Wood
Ernest Miller
Todd Barry
Mark Margolis
Wass Stevens
Jodah Friedlander

Realização: Darren Aronofsky


Profissional de atividade que exige algum tipo de esforço físico se aposenta; depois de algum tempo parado, precisa retornar ao trabalho, para provar seu valor e resgatar a confiança de alguém. Volta e meia este enredo dá as caras nas telas, e seu espaço natural é o drama. Nosso herói pode ser um desportista, como no clássico O campeão, de King Vidor (1931) ou sua cópia menor realizada por Franco Zeffirelli em 1979; pode ser um artista – o que nos remete a Luzes da Ribalta, de Charles Chaplin (1952). Essa lista de filmes lacrimogêneos, alguns melhores e outros piores, ganha a surpreendente adesão do diretor Darren Aronofsky em O lutador.
Surpreendente por que nos filmes anteriores, como Pi (1998) ou Requiem para um sonho (2000), Aronofsky nos apresenta uma narrativa seca, onde nos impede a identificação com os personagens, tornarmos próximos deles para entender melhor seus dramas. E bom quando descobrimos então outras facetas de um diretor, e aqui ele nos dá imagens chocantes, cruéis, que nos levam a ver a sociedade em decomposição por outra maneira. Mas O Lutador não deixa de ter uma direção tradicional, com pontas soltas do roteiro, e pontos de virada em cenas que nos dizem que devemos pegar o lenço por que vai sair um choro. Isso não impede que Aronofsky continue sendo um provocador. O lutador é um filme visualmente desconfortável. Contém elementos incômodos também em seu enredo (a rejeição do pai pela filha, o amor pela dançarina erótica) e diálogos diretos que chocariam alguns setores da sociedade mais puritanos.
Mas esse filme seria outro se não fosse filmado com Mickey Rourke no papel principal. Aronofsky parecia querer fazer uma homenagem a Mickey e filmes-homenagem geralmente são limitados, cansativos e não levam a lugar algum. Todos os filmes mencionados no primeiro parágrafo se sustentavam, antes de tudo, no trabalho de seus intérpretes. Em outro parentesco com eles, O Lutador não foge à regra. Seria uma narrativa comum sem Mickey Rourke, torna-se algo denso por causa dele.
Mas O Lutador é completamente diferente do que se poderia imaginar. Ele não está à sombra do histórico ou da figura de Mickey Rourke. Randy "The Ram" e o ator têm pouco a ver. Seu único ponto em comum talvez seja o fato de que ambos são resultados dos caminhos equivocados que tomaram em suas histórias. E isso que qualifica mais o filme, essa desassociação. Sua trilha mais metalizada, mas de forma calma, traduz o personagem principal, um herói de uma outra época, preso a um passado não exatamente de tantas glórias, mas de promessas e deslumbramentos. Câmera na mão, subjetiva na maior parte do tempo, fotografia que lembra a estética de filmes dos anos 80 mais experimentais e de pouco orçamento, nos dão uma clara intenção de que o foco é o personagem de Randy e que ele vive um drama real, urbano e visceral.
"The Ram", que apesar dos músculos sempre foi um homem amável e dócil, resolve partir em busca de conforto. Seja nos braços de Cassidy, a dançarina vivida por Marisa Tomei, deslumbrante, no melhor papel da sua carreira, comprometido talvez apenas pelo roteiro que deixa solta as arestas e respostas sobre suas reais intenções, mas que seu esforço em cena, compensa, em quem enxerga um possível amor e um pilar de reconstrução; seja na tentativa de reaproximação da filha, para quem sua figura é apenas um fantasma incômodo; seja no esforço para arrumar outro emprego, seguir uma nova vida, sobreviver. Não quero aqui condenar o filme a uma história de redenção - e náo seria errado classificá-la assim porque, pensando melhor, o que Randy quer é ter a chance de poder recomeçar. Mas o roteiro não nos dá as coisas de forma tão fácil. Se o resultado pode decepcionar alguns fãs de Aronofsky, vai conquistar os que apreciam um bom drama.
Nas premiações prévias no EUA e Europa, Mickey tem ganhado indicações e láureas de Melhor Ator do ano, por esse filme. Foi premiado com Leão de Ouro de interpretação masculina em Veneza 2008. No Oscar 2009 concorre a Melhor Ator e acredito que o a Academia dará seu premio de contribuição e estímulo para aquele que já foi prodígio e gala queridinho do cinema americano e que afundou no ostracismo por seu próprio mérito. Como um prêmio honorário pelo mérito de ter perpassado o seu difícil lado pessoal e ter injetado vida e interpretação ao seu personagem lutador. Ainda não vi todos seus concorrentes, mas a experiência diz que a maioria não é burra. Talvez seja a única chance que o Sr.Rourke tenha para mostrar que pode ser um ator de nível novamente e confiável. Veremos no decorrer dos fatos.


O LUTADOR ●●●1/2
The Wrestler, Darren Aronofsky, 2008

Um comentário:

  1. Rourke realmente está excelente como Randy The Ram. Espero que ele ganhe o Oscar. E Marisa Tomei deve levar, já que Kate Winslet saiu do páreo. Apesar do corpo lindo e da interpretação marcante, eu sinceramente preferia que a Academia premiasse a Amy Adams...

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